Como será possível acreditar num Deus criador do Universo, se o mesmo Deus criou a espécie humana? Por outras palavras, a existência do homem, precisamente, é o que prova a inexistência de Deus. José Saramago, Cadernos de Lanzarote, Diário I (2 de Maio)
Cidade. Casas. Gente. Conversas de vizinhas. Vidas. Cidade. Casas com dono ausente. Mas ainda com gente. Lamentos de vizinhas. Vidas. Cidade. Casas que se desfiguram. Gente envelhecida. Lágrimas de vizinhas. Vidas. Cidade. Casas que se emparedam. Porque já não há gente. Nem vizinhas. Nem vidas. Susana Figueiredo, Janeiro/2011
A velha que fuma num banco de jardim Dedos tintos de nicotina Melenas amarelas A pele seca e curtida de longos e longos anos A velha que fuma num banco de jardim No meio da avenida Lembrando Lisboa antiga Antes bela, agora sulcada pelo tempo A velha que fuma num banco de jardim Recordando uma vida cheia Ou vazia Que agora é apenas espaço Impregnado de fumo A velha que fuma num banco de jardim O corpo escasso de carne Expirada com o fumo A velha que fuma num banco de jardim Para morrer depressa Mas a morte não chega Ou então, e apenas, para saborear um cigarro. Susana Figueiredo, Jul/2005
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